No auditório, os homens foram sentando, todos nas primeiras filas. As mulheres, do lado de fora, conversavam e bebiam café. A palestra ia começar em instantes. Comentava-se que o palestrante era homem ilustre, expert no assunto: a solidão no mundo moderno. Um solitário fumava a um canto, o olhar apagado, a pele do rosto esticada e pálida.
O palestrante chegou. Ao fundo, uma orquestra invisível atacou fortune plango vulnera. Três minutos de silêncio, a música intensa. O público aguardava. A orquestra cessou e o palestrante, alto, magérrimo, em roupas negras, sentou-se. Um relógio invisível martelava os segundos. Depois de um tempo, alguém tossiu; uma mulher suspirou; outro homem pigarreou, ansioso.
O convidado se moveu. As cabeças se agitaram, atentas. Retirou de uma pasta um enorme espelho e o abriu perante a assistência. Mirou-se por instantes, ajeitou os cabelos engomados e com um piscar nervoso dos olhos, retirou-se.
Ouviu-se de novo a invisível orquestra. No espelho, os rostos brilhavam, imóveis, quietos, solitários. Lá fora, o homem apagou o cigarro e foi embora, sem sequer notar que a palestra terminara.