Nunca mais.
Acelerou o carro, atravessou o sinal antes de fechar e se deixou levar pelo fluxo multicolorido dos carros.
O melhor a fazer era ir embora, largar o emprego, recomeçar em algum lugar distante.
Maldito, ressoava em seus ouvidos a voz odiosa, a face estranha da mulher de tantos anos a rogar-lhe ofensas.
Os filhos criados. Um aborrecimento a menos.
As palavras são armas cruéis, como pedras atiradas contra as mulheres adúlteras. Madalena fora uma quase vítima. O salvador de todos a salvara. Na hora precisa. Mas já lá se iam mais de dois mil anos...
Outros os tempos. Palavras e pedras mais mortais. E a fé adormecida, a salvação feita promessa de fim de ano.
À sua direita, uma placa sinalizava a saída da cidade. Logo a estrada, reta como um enorme braço esticado, desfraldou-se à sua frente.
O relógio no marcador do carro rebrilhava verde-pálido onze horas da manhã. A esta altura, os telefones de casa, do trabalho, a sua procura. Se pudesse, enviaria pedras – ou só palavras – pelas linhas congestionadas.
Ao menos a sensação de existir acima, além, das pedras, das palavras e das gentes, o animava.
Ao meio dia – hora do almoço – decidiria seu destino.
alexandre gazineo
Enviado por alexandre gazineo em 20/08/2007
Alterado em 29/04/2013