Talvez fosse porque eu ouvia George Harrison
something in the way she moves
Ou porque é noite de sábado e eu me afundo
na vastidão de uma sala familiar...
não sei...
mas sei que sinto a velhice nos ossos
e toda a impossibilidade das mulheres passadas.
Talvez se minha mente navegasse
ousadamente desafiando ondas de uisque
eu nem prestasse atenção...
Mas não, eu estava e estou (infelicidade!)
sóbrio como um peixe fisgado
doído como todos os peixes capturados
nos cinco oceanos da insensatez.
Ouço o que parece prece
Mahalla esperando os santos do amanhã...
Talvez se eu tivesse fé e não me agoniasse além do razoável
se a morte não fosse este compromisso de cavalheiros
eu dormiria mais descansado, nesta noite de sábado
em que ouvi George Harrison (ou creio que ouvi, sei lá...)
cantar
something in the way we live and die.
E me sentiria confortado pela lembrança dela
(mas quem é ela, precisamente?)
a pisar suave na areia daquela praia
onde escrevi meu nome e a onda nunca chegou para apagá-lo.
Lá estou vivo
como a lua que é vista por milhares de amantes
naquela praia, em Amoreiras ou Porto Santo
ouvindo George Harrison eu canto
(...)
alexandre gazineo
Enviado por alexandre gazineo em 26/08/2017