Atravessava a praça quando o sino tocou. Parei sob o sol a pino e escutei. Tocou outra vez, o som como imã a atrair corpos e vontades. A igreja ficava na direção oposta, mas, rápido, alterei o rumo dos passos, o repicar quebrando a quietude da vila, e segui para lá, o olhar guiado pela torre aguda, bússola a exigir atenção e respeito.
Entrei na igreja, o frescor das paredes de pedra nua espantando o peso abafado do calor. Ninguém nos bancos longos e carcomidos pelo tempo e pelos seus fieis comparsas, os cupins. Sentei e fiquei imóvel, sem rezar, sonhar ou dizer nada. O chapéu amassado nas mãos mantinha-me atento e desperto.
Logo, os pássaros começaram a voejar pela nave, uma ovelha perdida ocultou-se sob o altar, o vento espalhou folhas secas e melancólicas naquele recanto fora do mundo.
Levantei e saí, satisfeito como quem deixa um banquete. O sino calara. Mas eu o ouvira e cumprira minha parte. Minha fé continuava viva como o sol que me espreitava lá fora.