Ando sempre fechando todas as portas
Cauteloso e irritado
Não temo a indiscrição dos ladrões
Estes nada podem me roubar
Apavoro-me ante o vulto de velhos conhecidos
Gente igual, repetida
Dispostas a inconfidências aborrecidas.
Ando driblando esquinas, mergulhando nos metrôs
Meu destino sempre a última estação
Disperso por fim esqueço-me de mim
Chamo-me de nomes que nunca ouvi
E que logo esqueço depois de espirrar (sou alérgico, desde pequeno).
Estou enfastiado, eis o truque que este poema
Despropositado e monótono
Pretende disfarçar (mas não disfarça, poema
realidade).
Não me interessa a verdade nem a mentira
A versão nem a explicação
E assim não me interessa o poema (inconformado em seguir
minhas tortuosas intenções).
Já nada me interessa - eis a conclusão!
A não ser, quem sabe, um livro a ser escrito
Ou uma cidade a ser visitada – boa ideia!
Mas um livro e uma cidade (terão ambos o mesmo nome?)
Estão dispersos na neblina e o meu cansaço
É enorme como o sol que não vem.
Melhor ficar entocado, sem nada planejado
Xingando os que conheço e os que nunca vi
Estou irremediavelmente perdido e achado
Na suma concreta deste desprezo adocicado.
Vou ter, isto sim, dezenas de filhos
E deixar de ser aquele que se debate em mim.
alexandre gazineo
Enviado por alexandre gazineo em 04/02/2015