Textos

O Rosto
O que era conhecido tornou-se mistério. Anos a fio o rosto me fora conhecido em detalhes vários. Mudou. Tornou-se delicado, frágil, quase feminino. Tempo de docilidade e descanso. Depois, alterou-se em traço incerto e infantil, mero rabisco. Foi então que explorei as cavernas que tio Afonso me falara na infância. Mergulhei e voltei  à superfície Outra mudança. Rosto sério, compenetrado, capaz de inspirar respeito ao pior herege. Por mim, apaixonou-se Rosa, doce, cheirosa, mulher de coxas úmidas. Tivemos filhos que se pareciam com ela somente. Ela amava meu novo rosto pétreo e a ela jamais contei sobre Eva, com quem me deitei no lusco fusco das grutas. Sinto-me covarde. Menti para a mãe dos meus filhos, que sempre tem o mesmo rosto e a mesma pele. Covarde porque ela não pode se defender de mim. Não pode se prevenir do meu rosto, camaleão astuto, que mudou de novo, justamente agora, quando me revelo a você.  
alexandre gazineo
Enviado por alexandre gazineo em 01/06/2007
Alterado em 03/03/2015


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