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Quando ela entrou em minha sala, senti pena; uma moça bonita, jovem, mas acabada; faltava um brilho, uma energia, que deve existir em mulheres com menos de trinta anos.

-'Em que posso lhe ajudar?'

-'O senhor empresta dinheiro, não é?'

Bem, sou agiota. Empresto grana a juros; baixos, comparados com os dos colegas. Confirmei. Ela pareceu aliviada.

' Preciso de dinheiro... mil reais...'

' Posso saber pra quê?'

Nunca antes havia perguntado. Mas a cara dela, tão desfeita, me atiçou.

-'Pra comprar uma arma... ' – e riu, como se fosse uma piada – 'Quero dar um tiro na cabeça...'.

Fiquei pálido. Um arrepio percorreu minhas costas e estendi a mão, para tocá-la. Em vão. A mesa, larga, a deixava a léguas de distância.

'Tá doida? – falei, zangado – Acha que vou lhe emprestar grana pra uma desgraça dessa?'

'Você não é agiota?' -  ela insistiu, surpresa.

 
'Mas não sou trouxa...'  – ri, irônico – 'Quem vai me pagar, depois que você morrer?'

Ela ficou me olhando, depois riu, leve, depois mais forte, até gargalhar. Fiquei quieto.

'Você tem razão... e agora?'

' Que horas são?'

'Dez pro meio dia!'

'Quer almoçar?'

Ela aceitou. Depois fomos ao cinema. No final do ano, casamos.

Ossos do ofício.

Como disse, meus juros são bem baixos.
alexandre gazineo
Enviado por alexandre gazineo em 16/03/2007
Alterado em 29/05/2013


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