Enfim aqueles dias indecisos, aquelas manhãs
Sempre arrastadas em nebuloso brilho...
Foi-se a estação que ainda ontem era luz,
Quedam-se meus olhos no anoitecer das almas.
De tudo restaram palavras de outono,
Folhas cor de caramelo, sofridas e secas...
Nosso amanhã é um animal ferido,
Fera indefesa que antecipa e espreita.
No solo estéril planto minha indiferença,
Na cama imensa enlaço minha letargia...
Acabou-se a estação breve das esperanças,
Migraram as aves da indizível alegria.
E aqui estou eu, silente e pasmo,
Testemunhando o inverno das minhas intenções...
Nas mãos guardo a semente antiga
Dos sonhos sonhados em incontáveis verões.
Quem sabe, um dia, talvez já senhor do tempo,
Retorne a alma ao prumo das ambições...
É finda a estação, silenciosos os campos,
Que ora verdejam em cinzenta solidão.