Textos


Embora denso o muro eu o devasso
eu habilmente passo, pela sua transparência
tão evidente às mentiras milenares, e o trespasso
atiro pedras contra sua consistência
duvido decisivamente da sua decência.

Mas o muro foi por muitos levantado
foi ecoado pelos cantos por vozes desmembradas
antes matar a liberdade de fome, saudar pesadelos
antes acreditar no antes e desdenhar começos.

O muro se ergue à minha frente e eis-me rendido
justo em um mês de outubro, em outro sentido
as flores que plantei murcharam em desalento.
Meu passaporte me espreita a todo momento
e em minha boca um canto amargo de cigarra
anuncia infértil a chuva que não virá.

Em outubro de 2018 algo de tão modo indefinivel
porque belo, saudável, alegre, possível,
varrido foi para sob o tapete da prepotência.

Em outubro de 2018 eu ainda encaro o muro 
como aquele chinês diante do apocaliptíco tanque...
e não recuarei, mesmo que cansado, ainda que doente
porque sou poeta, mas acima de tudo gente.
 
alexandre gazineo
Enviado por alexandre gazineo em 23/10/2018
Alterado em 22/04/2019


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