BRINQUEDOS DE CRIANÇA


Que foi feito dos meus brinquedos de criança?
Onde foram parar o orgulhoso guerreiro apache,
O soldado azul da cavalaria,
O carrinho que buzinava e corria?

Que foi feito daquele que brincava
Com meus brinquedos de criança?
Seria ele eu? Ou terá ele desaparecido,
Sido convenientemente esquecido,
Quem pode dizer se ele sou eu?

Tiraram-me os brinquedos,
Dos quais recordo como quem chora ao rés dum túmulo...
Como é estúpido ser outra pessoa, sem tempo para folguedos,
Dói-me a nostalgia porque não aceito o mundo...

Mas onde foram parar os brinquedos que enchiam o quarto,
Que ganhavam vida secreta no calor da varanda?
Alguém me diga para que eu apresse o passo
Sempre trôpego, indeciso, ansioso como quem sangra...

Dêem-me de volta os brinquedos dos primeiros dias...
Nada mais pedirei, juro que serei discreto...
Reconstruam dessas ruínas um prédio concreto
Deixem-me descansar, feliz por um momento...

Mas se nem eu sei onde se perdeu a jovial crença,
Saberão meus companheiros de infortúnio?
Quem me levou os brinquedos de criança,
Deixou esta solidão, extensa como um latifúndio.